segunda-feira, 10 de junho de 2024

100 Poemas de Fernando Barão (11)


Camões

Camões, grande Camões...
Não sei se foste o maior poeta português. 
Não sei se foste o poeta mais infeliz.
Sei que tem havido neste país, de letras lusitanas, muitos bons poetas e muitos grandes infelizes (alguns também poetas).
Mas sei que foste escolhido como padrão simbólico da raça nacional e isso coloca-te na elevação máxima da poesia portuguesa.
Eu, por mim, reconheço que tens, nos teus poemas, a tal sintonia musical que tanto adoro...
Se tivesse tempo para te homenagear fa-lo-ia em verso.
Aqui vai a tentativa.


O Retrato de Camões

Embora por caminhos controversos
Essa sabedoria de fio d' água
transformou-se em oceano.

Houve planícies e montes tão diversos
Que encheram o teu ser de grande mágoa
E levaram o teu rumo a todo o pano.

E essa vida errante
Aumentou-te conhecimentos
Que te fizeram glorioso e humano...

Oh poeta de contrastes,
Épico e amoroso,
Bem ufano
Entre as damas de cordel e do paço,
Das brigas arruaceiras sem cansaço,
Do espírito tirano.
Só que o teu valor sobrepujou
Todos os acidentes
Nesse teu viver insano.

[Fernando Barão, in "Escapes de uma Vida"]



quarta-feira, 5 de junho de 2024

Fernando Barão: dirigente dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas


Fernando tinha uma admiração especial pelos Bombeiros, desde a infância (foi a primeira profissão que quis ser, pondo de lado as de médico ou professor, por exemplo...), e havia razões para isso.

Desde criança que ouvia a sirene e os carros a passarem pela rua Cândido dos Reis, colocando tudo num reboliço, olhando para aqueles homens como autênticos heróis.

E eram mesmo.

Anos mais tarde, Fernando Barão, acabou por ser dirigente desta Associação Humanitária, ocupando o seu cargo mais importante, Presidente da Mesa da Assembleia Geral, de 1982 a 1990.

(Fotografia antiga de uma data festiva de Cacilhas e dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas)


segunda-feira, 3 de junho de 2024

100 Poemas de Fernando Barão (10)


Voluntários: Valores de Humanidade

Zumbem sirenes pela rua
Os fachos luminosos em seus fadários
Alarmam por intermitências circulares. 
Enfeitando os carros barulhentos
Lá vão os intrépidos voluntários.
Homens altivos a cumprir uma missão
Só  receando que a urgência
Tenha de sofrer afrouxamentos.
Há valores que se estão a perder,
Vidas que correm perigo
E o caminho é só: o do  DEVER.
Entretanto tu, pobre mortal,
Olhas o aparato, impaciente,
E continuas passeando ao lado de um amigo,
Vais até ao cinema ou ao café,
Como se na vida
Só isso tivesse significação.
Não pensas, nem meditas,
No esforço dos HOMENS DA VERDADE.
Até já perdeste a fé.
És um vencido,
Bem mais propenso para a maldade,
Um cego que nem sequer vê,
Que muito acima do teu comportamento,
Existem autênticos valores de HUMANIDADE.

[Fernando Barão, in "Escapes de uma Vida"]

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas) 

sábado, 1 de junho de 2024

100 Poemas de Fernando Barão (9)



A Voz das Crianças

A voz de uma criança
tem o timbre musical
da inocência.
É uma voz real e irreal...
Será a harpa dedilhada pelo anjo
pensando em Mozart;
será Vivaldi em violino nostálgico; 
ou Chopin em piano melodioso;
ou ainda Schubert, em flauta,
ao desafio com o canto dos pássaros.
Por que será que as perguntas das crianças
ficam muitas vezes sem respostas?
Talvez porque aos adultos
não convém aquela música...

[Fernando Barão, in "A Sombra dos Sentimentos"]


(Fotografia de Eduardo Gageiro)


quarta-feira, 29 de maio de 2024

100 Poemas de Fernando Barão (8)

 

Quarenta e Nove anos
Ginásio!

Quarenta e nove anos já estão passados,
Onde a alegria e a tristeza
Andaram de mãos dadas com certeza
Num trajecto dos mais ambicionados.

E se em honra aos nossos antepassados,
Tudo se fez com a maior firmeza"
Nós continuaremos numa reza
A evangelizar os mais ousados.

Teu belo pavilhão bem altaneiro
A todos honraria pela sua parte,
E se não teve o lugar cimeiro

É p'lo menos digno de melhor conta,
Pois se nasceu para ser pioneiro,
Nada a destruirá; nem a morte!

Fernando Barão


Nota: Este é o poema da polémica, declamado na cerimónia das comemorações do 49.º aniversário do Ginásio Clube do Sul e publicado a 7 de Junho de 1969, no "Jornal de Almada", no suplemento "Jornal das Colectividades" e em que a palavra "pavilhão" fez bastante "comichão" a Glória Pacheco...


terça-feira, 28 de maio de 2024

O Pavilhão do Ginásio não foi uma simples promessa (até foi capa de jornal)


Fernando Barão (tal como todos os ginasistas) tinha razões de sobra para lembrar a promessa do "Pavilhão", sempre que estava com Glória Pacheco, porque o Presidente da Câmara até tinha tido a lata de fazer uma cerimónia de "lançamento da primeira pedra" em Outubro de 1967 (a data da capa do "Jornal de Almada" está errada...).

Cerimónia feita num lugar, no centro de Almada (próximo da rua Lourenço Pires de Távora), onde nunca se construiu qualquer pavilhão...


segunda-feira, 27 de maio de 2024

Um olhar que diz quase tudo...


Glória Pacheco foi um presidente do Município de Almada que não deixou grandes saudades, envolvendo-se em várias polémicas, devido a promessas que fez e não cumpriu, especialmente às Colectividades.

Uma das promessas não cumpridas foi a construção de um Pavilhão Polidesportivo para o Ginásio Clube do Sul, a grande colectividade cacilhense, que desenvolvia um trabalho muito meritório em várias modalidades, como o andebol e a ginástica desportiva, que precisavam de pavilhão...

Quem não perdia a oportunidade para lhe falar sobre a promessa por cumprir era Fernando Barão. O que, por um mero acaso, não aconteceu durante a declamação de um poema de homenagem ao Ginásio, em que o Fernando utilizava a palavra Pavilhão, com outro sentido, o de estandarte.

Logo que tomou a palavra, o Presidente irritado (já não podia ouvir a palavra pavilhão...) começou a ameaçar o Fernando, sem citar o seu nome, dizendo mesmo a dada altura: «Qualquer dia mando-o prender!»

O olhar do Presidente (o segundo da direita, olhando o Fernando de lado...) nesta fotografia, diz quase tudo sobre as relações entre os dois...

(Fotografia do Arquivo da Família)


sexta-feira, 24 de maio de 2024

A paixão do Fernando pelo Benfica


Embora o Fernando nunca fosse um "doente da bola", era um adepto ferveroso do Benfica.

Era outra das nossas afinidades: sermos Benfiquistas.

Lembro-me de conversarmos sobre a suas idas ao futebol, na adolescência, à "Estância de Madeiras" no Campo Grande, onde o Benfica jogou "provisoriamente" entre 1941 e 1954, depois de ter sido "despejado" do seu Campo das Amoreiras, até à construção e inauguração do Estádio da Luz.

O Fernando levava lanche e passava o dia na Capital a ver futebol, desde os principiantes, passando pelas reservas e acabando na equipa principal.

Era um fartote de futebol e de Benfica.


sexta-feira, 17 de maio de 2024

100 Poemas de Fernando Barão (7)


Ao Ginásio Clube do Sul

Logo em pequenino
M'encaminhei pró verde e branco.
Era de Cacilhas, 
A minha Terra.
Verde dos olhos na esperança, 
Branco na alva do futuro
Ambicionando por aqueles homens
Íntimos do rio dos golfinhos,
E fizeram planos,
E conjecturaram caminhos,
E deram-se ao trabalho
No sentimento do incerto
Que frutificou certezas,
Que cimentou razões dos mais ousados,
Que naturalizou vicissitudes
De mãos dadas
Com êxitos imparáveis.
E o verde e branco cá está
No centro do pedestal.
- Vais longe verde e branco!
- Vais longe Ginásio!
O teu horizonte vai-se perder
Só nas lonjuras dos infinitos.
Verde e branco, 
Sempre verde e branco...

[Fernando Barão, in "Escapes de uma Vida"]

(no dia de aniversário do Ginásio...)

(Fotografia de Álvaro Costa)


segunda-feira, 13 de maio de 2024

Fernando Barão: 22 anos como dirigente do Ginásio Clube do Sul


Fernando Barão exerceu cargos directivos no Ginásio Clube do Sul desde 1947 até 1984, ou seja, estreou-se com 23 anos de idade como segundo secretário da Direcção e despediu-se como Vice-presidente da Mesa da Assembleia Geral, já com com 60 anos.

Mas vamos ver em detalhe os cargos que exerceu:

1947 – 2º Secretário da Direcção; 1948 - 2º Secretário da Mesa da Assembleia Geral; 1949 - 2º Secretário da Mesa da Assembleia Geral; 1950 - 2º Secretário da Mesa da Assembleia Geral; 1951 - 2º Secretário da Mesa da Assembleia Geral; 1953 - 1º Secretário da Direcção; 1955 - 1º Secretário da Mesa da Assembleia Geral; 1956 - 1º Secretário da Mesa da Assembleia Geral; 1957 - Presidente da Direcção; 1963 - Presidente da Mesa da Assembleia Geral; 1964 - Presidente da Mesa da Assembleia Geral; 1965 - Presidente da Mesa da Assembleia Geral; 1968 - Presidente da Mesa da Assembleia Geral; 1969 – Vice-Presidente Administrativo; 1970 - Presidente da Mesa da Assembleia Geral; 1971 - Presidente da Mesa da Assembleia Geral; 1972 - Presidente da Mesa da Assembleia Geral; 1973 - Presidente da Mesa da Assembleia Geral; 1974 - Presidente da Mesa da Assembleia Geral; 1978 - Presidente da Mesa da Assembleia Geral; 1983/84 - Vice-Presidente da Mesa da Assembleia Geral;

 (Fotografia do Arquivo da Família)


100 Poemas de Fernando Barão (11)

Camões Camões, grande Camões... Não sei se foste o maior poeta português.  Não sei se foste o poeta mais infeliz. Sei que tem havido neste p...