segunda-feira, 22 de abril de 2024

Um Poema de homenagem ao Fotógrafo...

 


O Fotógrafo da Névoa

Quando ouve a ronca do Farol
sente que o chamam no cais
para tirar retratos sem Sol
de belas paisagens fluviais
 
Prepara tudo com cuidado
a “kodak” é uma caixa de surpresas
que às vezes o deixa abismado
por o deixar fixar tantas belezas
 
A sua Isabel fica ao balção
e ele lá vai, atrás do nevoeiro
movido pela sua outra paixão.
 
Quem o olha, ali rente ao rio
ignora aquele artista de corpo inteiro
capaz de arrancar beleza até do vazio.
 
 [Luís Alves Milheiro, in "Ginjal 1940 (1º Volume)"]


(Fotografia de Luís Eme)

sábado, 20 de abril de 2024

Fernando Barão: fotógrafo


Nota: Pequena biografia do fotógrafo Fernando Barão, que consta no catálogo da 1.ª Exposição Anual da SCALA na Oficina da Cultura de Almada, em 1995.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

100 poemas de Fernando Barão (5)

 

Farol de Cacilhas

Lembro o seu pragmatismo nas manhãs de nevoeiro
a caminho do liceu
havia ali uma luz cintilante e um sinal sonoro
que inspiravam força ao navegante
e tornavam a travessia confiante.
Um dia foi-se. Por quê, para onde?
Talvez para os confins do desconhecido.
A recordação, a saudade, fundamentavam-se
na indecoração das novas tecnologias.
Talvez por isso o seu lugar vazio
ainda atrai à vista.

[Fernando Barão, in "Margem Sul"]

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Os "Problemas do Concelho de Almada" do Fernando


Fernando Barão assinou várias crónicas temáticas, ao longo dos vários anos em que foi colaborador do "Jornal de Almada".

Uma das mais populares e pertinentes teve como título, "Problemas do Concelho de Almada" (também tinha uma vertente mais positiva, "Virtudes do Concelho de Almada", com bem menos crónicas...) e foi publicada semanalmente, desde o final da década de sessenta até ao começo dos anos setenta do século passado.

Algumas das questões e dos problemas levantados pelo Fernando não só mantêm a actualidade, como se agravaram, cinquenta e alguns anos depois, como este pequeno texto que transcrevemos, publicado a 15 de Fevereiro de 1969:

«Como dizia um célebre químico em palavras tão sensatas que lhe valeram uma lei, das principais que nos ensinam nos bancos do ensino secundário: “Na Natureza nada se cria nem nada se perde, tudo se transforma”. E é assim infalivelmente. Bastante se tem transformado a Humanidade! É certo que se têm criado melhores condições de vida, mais conforto, melhores possibilidades de distracção. Enchem-se estádios – embora com percepção pouco clara – e basta carregar um botão para termos um espectáculo nas nossas casas. Em contrapartida, perde-se ou desagrega-se a vontade colectiva, o espírito de associação, o gosto pela leitura séria, pela Música, pelo Teatro, pelo puro diletantismo fazendo-se tudo pela força do dinheiro, com um esforço de elevar cada vez mais o nosso “ego”, fazendo reinar a sobranceria, a vaidade, o despotismo e quando a responsabilidade toca à porta, o dar de ombros, é a resposta mais adequada.»

Nota: Apesar de já termos ouvido uma outra versão, foram estas crónicas, lidas semanalmente pelo novo presidente do Município, Silveira Júnior, que o levaram a lançar o convite-desafio ao Fernando, para fazer parte da vereação da Câmara Municipal de Almada, no Verão de 1970.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, 3 de abril de 2024

100 Poemas de Fernando Barão (4)

 


Nas Asas do Sonho
 
Esta gaivota do Tejo
visiona-me a palavra LIBERDADE.
A “alguns” homens os peitos enchem-se de ar
da força viva que nos poderá oferecer continuidade.
E respirar é viver…
Brotará de novo o amor…
Assim todo o mundo estará predisposto
em alcançar o almejado caminho que conduz
ao zénite do porvir de um mundo novo…
 
[Fernando Barão, in "Escapes de uma Vida]

(Fotografia de Aníbal Sequeira)


sábado, 30 de março de 2024

Fernando Barão: os seus mais de 109 anos de Dirigente Associativo em Almada


Na pesquisa que realizámos para a homenagem que o Movimento Associativo prestou a Fernando Barão, na comemoração do seu nonagésimo aniversário (que felizmente pudemos contar com a sua presença e sentir o quanto estava feliz por ver tantos amigos a associarem-se a esta festa bonita), verificámos que Fernando Barão tinha ocupado durante 109 anos cargos directivos nas suas colectividades: Ginásio Clube do Sul; Clube de Campismo do Concelho de Almada; Sociedade Filarmónica Incrível Almadense; Santa Casa da Misericórdia de Almada; SCALA - Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada; O Farol - Associação Cívica de Cacilhas. E não contabilizámos os anos em que também fez parte da Associação de Comerciantes do Concelho de Almada, da Federação Portuguesa de Campismo e Caravanismo, da Federação das Colectividades de Cultura e Recreio e dos Rotários de Almada...

Mas estes 109 anos são muito mais que um número. Porque durante estes anos Fernando Barão foi sempre figura cimeira das suas associações, ocupando os seus principais cargos, e mais que uma vez. Nunca foi uma "figura decorativa", foi sempre um Activista Associativo.

Exerceu o cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral nas seguintes Colectividades: Ginásio Clube do Sul; Clube de Campismo do Concelho de Almada; Sociedade Filarmónica Incrível Almadense; Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas; SCALA - Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada; O Farol - Associação Cívica de Cacilhas.

Foi também Presidente de Direcção do: Ginásio Clube do Sul; Clube de Campismo do Concelho de Almada;  SCALA - Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada.

Na Santa Casa da Misericórdia de Almada foi Provedor durante 12 anos.

E é importante não esquecer que foi também um dos fundadores do Clube de Campismo do Concelho de Almada, da SCALA - Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada e de  O Farol - Associação Cívica de Cacilhas.

(Fotografia de Luís Eme)


quinta-feira, 21 de março de 2024

100 Poemas de Fernando Barão (3)

 

Almada

Conquistada por Afonsos e por Sanchos,
Com cruzados e infiéis no entremeio, 
Pertenceste a Sant'Iago no após
E Esses cruzamentos no teu seio
Deram-te a imensa universalidade, 
E uma alternância sem receio,
De ficarmos eternamente sós.

Agora estás atingindo a maioridade:

São oito séculos mais à frente.

Transformaram-te em Cidade
Carregadinha de gente.

São mulheres e homens calejados
Que hoje firmam o seu querer,
Dão lições de muita fraternidade
Atingindo plenamente objectivos...
Foste a Almada da Mina de Ouro,
Mas é nos indices colectivos,
Que manténs o teu maior tesouro.

[Fernando Barão, in "Escapes de uma Vida"]


                                                          domingo, 17 de março de 2024

                                                          «A Festa foi boa, Fernando»


                                                          «A festa de ontem, foi boa, Fernando, na nossa Incrível.

                                                          Deves ter gostado de tudo.  Do pequeno documentário realizado pelo teu neto, Pedro, que além de muitas imagens com história, tem o testemunho de vários amigos e também dos teus familiares mais próximos. Claro que há um testemunho que sobressai sobre todos os outros, o da tua filha Fátima, por ser provavelmente quem melhor te conhece e também quem mais te ama, de entre todos nós, que estamos no lado de cá.

                                                          Por isso o seu testemunho teve muita informação, alguma mais pessoal, mas o que mais se salientou, foi o amor filial e o enorme orgulho de ser tua filha (e da Isabel, que esteve presente a teu lado, como sempre...), porque tu foste mesmo grande, a altura que constava no bilhete de identidade estava errada... Podias muito bem ser jogador de basquete, e dos bons.

                                                          Depois seguiu-se um pequeno concerto da Banda da Incrível, que como de costume, respira talento e juventude. E como tu gostavas de música e de filarmónicas. Não foi por acaso que foste um dos bons beneméritos deste agrupamento musical associativo, que nos anda a dar música há três séculos. Ias sentir-te orgulhoso desta homenagem de uma das muitas casas colectivas que amavas e onde deixaste a tua marca, como dirigente e como associado.

                                                          A festa podia ter acabado aqui, mas ainda havia a parte mais formal, com os discursos dos elementos da Comissão de Honra, que foram intervalados pela leitura de alguns poemas. 

                                                          Discursaram: Fernando Dias (o teu genro leu um testemunho de teu amigo Diamantino), Luís Milheiro, Henrique Costa Mota, Artur Vaz, Alexandre M. Flores, Rui Raposo (O Farol), Beatriz Ferreira (Ginásio Clube do Sul), Carlos Pinto (Bombeiros Voluntários de Cacilhas), Luís Ramos (Clube de Campismo de Almada), Fernando Viana (Incrível Almadense), Joaquim Barbosa (Santa Casa da Misericórdia), António Matos (Vereador do Município) Maria de Assis (União de Juntas de Almada), Ivan Gonçalves (Assembleia Municipal de Almada) e Ana Catarina Mendes (Ministra do Governo Socialista ainda em funções)

                                                          Declamaram poemas: Maria Gertrudes Novais, Fátima Dias Barão, António Boeiro (e outro senhor, que não fixámos o nome...).

                                                          Para a sessão acabar com "chave de ouro", vimos e ouvimos uma mensagem da Presidente da Câmara de Almada,  Inês Medeiros, que estava ausente do País, para ti.

                                                          E o mais importante, estava na plateia e nas galerias, muitos amigos que não quiseram perder esta oportunidade de te recordar e abraçar. Gratos pelo teu companheirismo, pela tua amizade e alegria, sempre contagiante.»

                                                          Nota: Crónica escrita em jeito de carta, para Fernando Barão, um amigo inesquecível, que como já perceberam, fez cem anos em Janeiro, e que iremos homenagear e festejar, até pelo menos, ao mês de Janeiro de 2025. Publicada primeiramente no "Casario do Ginjal".

                                                          (Fotografia de Luís Eme - Almada)


                                                          sexta-feira, 15 de março de 2024

                                                          100 poemas de Fernando Barão (2)



                                                          Aquelas Praias

                                                          Éramos como bandos de pardais livres como o vento. 
                                                          - Até as gaivotas deveriam ficar enciumadas -
                                                          Logo, a baixas horas,  os caminhos eram percorridos em tropel
                                                          O meio liquido estava ali à nossa vista para o regabofe
                                                          com as roupas que Deus nos ofereceu à nascença...
                                                          Margueira, Lavadeiras, Alfeite, refúgios dos que sabiam nadar
                                                          e dos que se agarravam à água...
                                                          Nos tempos frios a malta ficava nostálgica, sem brilho, 
                                                          sem fulgor, sem aquele visionamento de horizontes azuis
                                                          que se alongavam até terras do Ribatejo.

                                                          [Fernando Barão, in "Margem Sul"]


                                                          (Fotografia de Fernando Barão - a Praia das Lavadeiras no Ginjal)